quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sapatos, shoes e scarpe


Chapéu e sapatos do Charlot
Nunca passei fome na vida, como aconteceu ao Sir Chaplin, em vida e na tela. Conheço 'meninos d'oiro' que, talvez, tenham passado. E, hoje, com mesas fartas e, por vezes, até excessivas, lembro-me sempre do Charlot a comer o seu sapato. A menina que fui, ao ver esta cena que vos mostro, tinha sempre uma sensação agridoce, dividida entre a tristeza por ver tal desgraça - e saber que ela existe no Mundo - e alegria de ver alguém comer pregos com tanta satisfação, que mais parecem aqueles ossos do entrecosto que são tão saborosos. Que tenham muitos sapatos na vida, seja para andar ou para ocasiões especiais, mas que nunca seja para comer! Feliz Natal e Feliz Ano Novo.

Charlie Chaplin em A Quimera do Ouro, de 1925
I've never starved in my life, like it happened with Sir Chaplin, in real life and in the movies. I know some 'golden boys' that, perhaps, have. Today with tables full of food, maybe even with too much food, I always remember The 'little'Tramp eating his shoe. The girl I was - when she used to see this scene that I show you now - used to have a bittersweet feeling, divided between sadness to see such tragedy - and know that it exists in the world - and joy to see someone eating nails with so much satisfaction. I wish you all a lot of shoes in your life, to walk or to special events, but never to eat! Happy Christmas and a Happy New Year.

No sono morta di fame mai nella mia vita, come è sucesso al Sir Chaplin, nella sua vita reale e nei suoi film. Conosco 'bambini d'oro' che, magari, sono. E, oggi, con un tavolo con troppi cibi, mi ricordo sempre di Charlot mangiando le sue scarpe. Quando ero bambina e guardavo questa scena avevo sempre uma sensazione agrodolce, divisa tra la tristezza per la tragedia - non solo per vedere ma per sapere che existe nel Mondo - e tra la gioia per vedere qualquno mangiando con questa soddisfazione. Vi desidero molte scarpe nella vita, per caminare o per le occasione speciale, però mai per mangiare! Buon Natale e un Anno Nuovo Felice.      

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um pedaço de casa

Na foto à direita mostro-vos o meu cantinho do Chaplin do meu quarto. Por acaso, não faço ideia quem é que deu ou onde é que os meus pais arranjaram esta mini estatueta do Charlie Chaplin... É algo a descobrir. Além da mini estátua, podem ver o meu caderno do Chaplin, que tem em todas as suas páginas uma citação do mesmo.

Sempre fui assim. Guardo todas as coisinhas que possam imaginar. Tenho uma caixa de recordações já bem cheia, que não pára de encher - principalmente com todas as viagens e aventuras que tenho feito neste último ano. 

Mesmo nessas aventuras encontro sempre algo que me lembre o Chaplin. Na Lituânia, com as minhas  simpáticas companheiras de viagem portuguesas encontrámos um restaurante/café chamado Charlie's. É verdade, parece que em todo o lado se pode encontrar um restaurante ou café com esse nome. Até em Albufeira existe um - que nunca visitei, o que pensando bem não admira muito, tendo em conta que há muita coisa que só temos disponibilidade para fazer viajando, é, realmente, uma das coisas que mais gosto quando  viajo. A viagem para a Lituânia surpreendeu-me imenso, conheci gente muito simpática e fiz amigos, uns nacionais e outros internacionais. Não desvalorizando o valor da amizade e das amizades que lá fiz e me ajudaram a viver dez dias bem intensos e felizes, o que me surpreendeu mais foi a minha capacidade de ir para lá completamente sozinha, de fazer amigos, de reagir a tudo o que é diferente da forma mais natural possível. Com essa viagem percebi que tenho maneiras de não só sobreviver às saudades e a possíveis obstáculos, mas, principalmente, viver no verdadeiro sentido da palavra. Com esta viagem passei a estar completamente disponível para o mundo lá fora.

Talvez, por isso, tenha decidido candidatar-me às bolsas de estudo do Instituto de Italiano onde tive aulas de italiano este ano. Graças às boas notas consegui uma bolsa para estudar durante um mês em Florença. Graças aos meus pais tive a oportunidade de ir. Foi uma grande aventura, maior que a passada em tempo e, claro, em turismo. Conheci Florença ao ponto de haver uma altura em que já não me considerava turista, mas sim residente. Claro que também não era residente, por isso inventei a expressão 'fiorentina emprestada'. Além de Florença, uma cidade maravilhosa, aprendi muito e comecei mesmo a falar italiano! É maravilhoso quando se começa a ser independente numa cidade estranha. Depois vêm as amizades! Foram bastantes, fortes que tenciono manter mesmo que seja através das saudades, de emails ou das redes sociais. Pude, felizmente, visitar outras cidades italianas, e foi numa outra cidade da Toscana, Pisa, que encontrei por lá, de novo, o Charlie Chaplin. Enquanto passeava por Pisa em busca da Torre Pendente e da Praça dos Milagres, passei por esta mercearia com um nome interessante. Como vêem, podemos ir para muito longe, mas parece que nessa distância que nos parece enorme conseguimos encontrar, sempre, um pedaço de casa. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ode to a worm


Hoje decidi rever um dos meus filmes favoritos do Sir Chaplin, Limelight (1952). É, realmente, uma maravilhosa história. A cena que vos apresento em baixo, é, para além de uma das minhas predilectas, a razão pela qual eu tanto o admiro. 
Chaplin apresenta a nobreza de se ser um palhaço, de se viver para ver os outros rir e, inevitavelmente, de se viver com medo de não fazer rir. O terror de uma plateia vazia ou do silêncio depois de se ter dado tudo por tudo num número pensado até ao pormenor ou então, até num número improvisado na hora. Com os velhos truques do palhaço que Chaplin tinha dentro dele, é aqui que conhecemos Mr. Calvero, um artista, que perdeu o rumo e o seu nome, que ajuda uma jovem bailarina perdida nas amarguras do passado. Reparem bem na dramatização que Chaplin consegue dar às suas palavras com apenas um olhar, e depois, com apenas um sorriso devolve ao seu diálogo a leveza da mais simples comédia. 
É com extrema inteligência e simplicidade que Chaplin faz a Ode a uma minhoca, um animal típico da Primavera que ninguém colocaria num soneto, ainda para mais a sorrir para o Sol. 
Aqui e ali, penso ver vestígios da própria vida de Charlie Chaplin e a sua forma de pensar neste Calvero, seja pela forma como este fala da licença poética que lhe permite dizer coisas sem sentido e com elas fazer a plateia rir ou com as subtilezas do diálogo no que diz respeito à condição humana. Exemplo disso é o excerto que aqui apresento:
"Bailarina - "I like you. You're sensitive, you feel things." 
Mr. Calvero - "Don't encourage me." 
Bailarina - "It's true. So few people have the capacity to feel.
 Mr. Calvero - "Or the opportunity."

E, no fim, os aplausos. O sossego e o alívio do artista quando sente que conseguiu comunicar com o seu público. Foi isso que eu sempre senti quando era pequena e via os filmes do Chaplin, uma ligação. Neles encontrei sempre todo o tipo de emoções e ensinamentos para a vida. Charlie Chaplin era um verdadeiro artista, foi com ele que aprendi o que isso significa.


Ode to a Worm - Charlie Chaplin e Claire Bloom (1952)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pézinhos à Chaplin


Pézinhos à Chaplin!, diz a professora de ballet às suas bailarinas. Todas elas sabem, ao ouvir a ordem da professora, que devem colocar os seus pés para lados opostos criando uma linha reta.
 Essa postura pertence à personagem de Charlie Chaplin, conhecida como Charlot – The Tramp. Desde sempre que a personagem se confunde com o realizador, ator e compositor.
 Que personagem é esta? Charlot! Um vagabundo modesto e romântico? Um sem abrigo mudo e infantil? Um cómico íman de problemas? 
O Charlot é o menino que Chaplin foi quando ficou órfão à força devido ao enlouquecimento da sua mãe. É o menino que assistiu à obsessão da sua mãe em esmigalhar o pão para ter comer para si e para o seu irmão. É a criança que viu a loucura da sua mãe tomar conta da sua carreira como cantora. É a criança que se tornou cantor e comediante para sobreviver à vida.
Em O garoto de Chaplin (The Kid) de 1921 vemos um Charlot paternal que mostra o sofrimento da separação de um pai e um filho à semelhança da vida do próprio realizador. Em quase todos os filmes protagonizados pela sua personagem ícone a fome está presente, seja em A quimera do ouro (The Gold Rush) de 1925, na famosa cena em que o vagabundo come com o seu companheiro de aventuras um sapato cozido ou na cena em que o seu amigo completamente esfomeado vê Charlot na forma de uma galinha, ou ainda na curta metragem A vida de um cão (A dog’s life)de 1918 em que Charlot rouba comida para se alimentar e ao seu cão.
A velhice e o declínio na vida de um artista foram sombras que Chaplin viu na vida da sua mãe e que volta a abordar no filme Luzes da Ribalta (Lime Light)de 1952, onde um velho artista encontra uma nova esperança ao ajudar uma jovem bailarina a recuperar da depressão. 
As roupas gastas e sujas do the little tramp foram em tempos as roupas do menino que foi. Apesar de todo o sofrimento que podemos vivenciar ao ver os filmes de Charlie Chaplin sentimos ao mesmo tempo um humor genial e um sorriso especial. 
O sorriso genuíno do vagabundo é a maior dádiva e o maior conselho que Charlie Chaplin nos deixou.

Geraldine & Oona Chaplin (filha e neta de Chaplin) cantam Smile 


Smile, though your heart is aching. Smile, even though is breaking. When there are clouds in the sky you’ll get by. If you smile through your fear and sorrow. Smile and maybe tomorrow you’ll see the sun come shining through. Light up your face with gladness. Hide every trace of sadness. Although a tear may be ever so near. That’s the time you must keep on trying. Smile, what’s the use in crying? You’ll find that life it’s still worthwhile if you just smile. - Charlie Chaplin